Universidade Federal de Viçosa desenvolve a UFV Apolo: uma nova variedade do pêssego
Adaptada ao clima brasileiro, a espécie também apresenta maior produtividade se comparada às variedades tradicionais cultivadas no Brasil.
Publicado: 03/11/2022 16:37
No detalhe, a UFV APOLO - Fonte: arquivo pessoal No detalhe, a UFV APOLO - Fonte: arquivo pessoal

Na Universidade Federal de Viçosa (UFV), um trabalho que teve início há 20 anos resultou em uma nova cultivar de pêssego, a UFV APOLO, cujo nome científico é Prunus persica (L.) Batsch. Adaptada ao clima brasileiro, a espécie também apresenta maior produtividade se comparada às variedades tradicionais cultivadas no país.

Cultivares são plantas geneticamente melhoradas, desenvolvidas em laboratório e destinadas à produção agrícola. O processo de melhoramento genético ocorre a partir de cruzamentos feitos entre plantas de linhagens tradicionais. Após o cruzamento, é possível obter progênitos, que são plantas geradas e definidas como descendentes. A partir desse material, é realizada uma seleção baseada na característica desejada, como, por exemplo, a qualidade do fruto ou a melhor adaptação ao clima.

Desenvolvimento

O trabalho teve início em 2001, quando um grupo de pesquisadores da UFV iniciou experimentos para a melhoria do pêssego (Prunus persica (L.) Batsch), fruto que pertence à família das rosáceas. O pessegueiro, nativo da China, é uma planta adepta a clima temperado. Isso significa que sua condição requer baixas temperaturas, aspecto que faz parte do seu mecanismo de adaptação e resistência. Como o Brasil não apresenta invernos rigorosos, essas plantas passam por uma seleção para se adaptarem, na qual entram e saem de um período denominado “dormência”.

O grupo de pesquisa coordenado pelo professor Cláudio Horst compreendeu que, ao passo que a agricultura brasileira demanda cultivares adeptas a clima tropical, para o melhoramento do pêssego era interessante buscar plantas em regiões de clima temperado. Ele conta que quando chegou na UFV encontrou uma coleção de pessegueiros e que dentre elas havia uma nomeada de Relíquia. Quando foi realizar seu estágio de pós-doutoramento no exterior, coletou pólens de outras plantas. “Quando fui cursar meu pós-doutorado na Espanha, eu e minha equipe trouxemos para o Brasil pólens de cultivares espanholas, como a Miraflores. Cruzamos a Relíquia com a Miraflores, o que resultou em uma progênese chamada UFV 302-2.”

Sete anos depois do primeiro cruzamento, já em 2009, Horst e seu grupo decidiram cruzar a UFV 302-2 com a cultivar Tropic Beauty, variedade vinda dos Estados Unidos e adaptada às condições frias e de baixa temperatura. O resultado desse processo foi nomeado de UFV APOLO. Dentre os aspectos que tornam a cultivar atrativa estão as características adquiridas após o processo de melhoramento. “A UFV APOLO é uma planta de crescimento médio, tem o fruto de epiderme com coloração de fundo amarelo-alaranjado, cobertura de vermelho médio e sólido, é medianamente firme e possui caroço semi aderente, além da cor da flor e da folha terem sido modificadas dentre outros aspectos que também foram corrigidos”, salienta Horst. Ainda segundo o pesquisador, apesar das alterações genéticas, tudo isso faz parte da variabilidade natural, que é dada a partir da possibilidade de cruzamento da planta.

 Proteção

A cultivar UFV APOLO está protegida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e seus dados estão disponíveis pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC). Modalidade da propriedade intelectual, a proteção de cultivares é um direito pelo qual melhorias de plantas protegem suas cultivares, obtendo assim exclusividade sobre elas. Horst reforça que “geralmente, são os produtores de mudas que se interessam por licenciar as cultivares junto às universidades, para assim começarem a produzir e comercializar as novas plantas. ”

A cultivar UFV APOLO é relevante para a produção precoce de pêssego em áreas de clima ameno no Brasil. Horst comenta que dificilmente uma cultivar é desenvolvida em um período inferior a dez anos, justamente pelas complexidades de adaptação climática. Segundo ele, de maneira geral, as etapas de desenvolvimento de cultivares, quando são apoiadas pelas universidades, bem executadas e efetuadas em regiões de clima favorável ao plantio, tornam o trabalho dos pesquisadores mais eficaz. “Avalio todo o processo da UFV APOLO de forma positiva, tendo em vista o nível das dificuldades de todas as etapas pelas quais passamos. No Brasil se produz pêssego nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e um pouco no Espírito Santo. Em termos de clima, para as variedades tradicionais, o Rio Grande do Sul é o estado mais adaptado. Todavia, analisando os quilos por hectares, a produtividade de pêssego é maior em Minas Gerais", conclui.

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