Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG apresenta aumento de 35 % em comercialização em relação a 2022
Com o apoio da SEDE, o evento reuniu 90 expositores de 27 municípios em sua 22ª edição e homenageou Frei Chico, principal pesquisador da cultura popular do Vale
Publicado: 23/05/2023 17:50
Foto/reprodução: Acervo UFMG Foto/reprodução: Acervo UFMG

A Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG ocupou pela 22ª vez, o campus Pampulha, na Praça de Serviços.  Organizada pela Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult), por meio do programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, a feira aconteceu entre os dias 8 a 13 de maio, e apresentou uma amostra representativa da vasta produção de artesanato, arte, bordado, tecelagem e outros bens culturais da região do Jequitinhonha, no Nordeste de Minas Gerais. O evento contou com entrada gratuita.

Todos os anos, a UFMG realiza o evento com o objetivo de dar visibilidade  e reconhecimento ao trabalho dos artistas do Vale e ampliar o diálogo entre artesãos e artistas da região, universidade e comunidade local, além de ampliar as possibilidades de comercialização de seus produtos com um preço atrativo para os moradores da capital mineira. Para a  maioria dos participantes, a Feira promovida pela UFMG é hoje o melhor local de vendas em âmbito nacional.

Em 2023, a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha contou com a participação de representantes de 27 municípios do Vale do Jequitinhonha, atendendo em média 678 artesãos direto e indiretos dessa região e gerando um aumento da comercialização em aproximadamente 35% da edição anterior, totalizando as vendas em quase R$ 500mil.

Segundo a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o artesanato produzido no Vale do Jequitinhonha é um patrimônio cultural de Minas Gerais que precisa ser valorizado. “A UFMG tem muito orgulho de organizar essa feira há duas décadas. É um evento consolidado em nosso calendário, realizado mesmo durante a pandemia (de forma virtual). Temos consciência de que a feira desempenha um papel importante na vida dos artesãos e das pessoas que vivem no Jequitinhonha. A cultura é parte da identidade de um povo, e uma universidade pública como a nossa tem o compromisso de garantir condições para que ela se fortaleça e se perpetue para as gerações vindouras”, reflete a reitora.   

Maria das Dores Pimentel Nogueira, coordenadora do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, explica que “a parte financeira é importante, sim. Mas é mais do que isso, é um espaço de encontro, de troca de saberes. Alguns artesãos só se encontram aqui na feira, uma vez por ano. E é, também, um espaço de encontro entre o saber tradicional e o saber científico. Além disso, a comunidade universitária acolhe a comunidade do Vale do Jequitinhonha com muito carinho”.

A Feira de Artesanato contou com uma vasta programação cultural durante toda a semana, além de exposição e homenagem ao religioso Frei Chico, um dos principais pesquisadores da cultura popular da região, falecido em janeiro de 2023, aos 83 anos.

Homenagem a Frei Chico

Nascido na Holanda, Frei Francisco Van der Poel chegou ao Brasil na década de 1960. O frade franciscano morou durante muitos anos em Araçuaí, município do Vale do Jequitinhonha e dedicou mais de 40 anos de sua vida a pesquisar a cultura do Vale. Ele fundou o coral Trovadores do Vale e escreveu o Dicionário da religiosidade popular: cultura e religião no Brasil, com 8,5 mil verbetes e 350 ilustrações relacionados à cultura popular.

“Frei Chico foi a pessoa que percebeu a beleza da cultura popular do Vale e mostrou aos próprios moradores da região o quanto aquilo era valioso. É muito comum as pessoas não valorizarem a cultura que está ali, no quintal de casa ” explica Maria das Dores Nogueira. “Para nós, é uma honra homenagear Frei Chico”, acrescenta.

O tributo contou com apresentações do coral Trovadores do Vale, tendas com exposições de objetos, livros, vídeos de Frei Chico, e a presença da artesã Lira Marques, mestra de ofício, ceramista e parceira do religioso nas pesquisas sobre a cultura do Vale do Jequitinhonha.

Lira Marques e Frei Chico se conheceram quando ela começou a participar do coral Trovadores do Vale, em 1970.  A artesã logo reconheceu, no repertório do coral, as músicas que ouvia da mãe e passou a ajudar o frade nas pesquisas e registros das diferentes manifestações artísticas da população do Vale do Jequitinhonha. O resultado dessas mais de quatro décadas de dedicação da dupla está nas mais de mil páginas do Dicionário da religiosidade popular: cultura e religião no Brasil. Exemplares da obra serão colocados à venda na feira, trazidos pelo ‘Museu de Araçuaí - Um presente de Frei Chico e Lira Marques’.

Programação cultural

A 22ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG contou com programação cultural durante todo o evento. Nesta edição, o evento contou com a apresentação do violeiro Victor Batista, com o show Viola de arame, Rubinho do Vale, o Coral Trovadores do Vale, em homenagem a Frei Chico, e a dupla Beatriz Farias e Tau Brasil.

“Buscamos sempre trazer artistas ou grupos que desenvolvam trabalhos que se relacionem com a cultura do Vale. O violeiro Victor Batista, que é de Belo Horizonte e hoje reside em Goiás, tem todo o seu trabalho sobre a cultura popular mineira, o mesmo acontece com Tau Brasil e Beatriz Farias, que sendo do Vale  do Mucuri, estabelecem uma frequente troca de saberes musicais com o povo do Jequitinhonha”, explica Sérgio Diniz. O show em homenagem a Frei Chico foi realizado no dia 10 de maio, com presença de Rubinho do Vale, Lira Marques e Coral Trovadores do Vale e de amigos e pessoas que viveram ao seu lado. “Uma homenagem singela, mas cheia de sentimento”, ressalta Diniz.

Histórico

A ideia de promover um evento que pudesse colocar os artesãos do Vale do Jequitinhonha em evidência na capital mineira surgiu em setembro de 2000, durante uma edição da Semana do Conhecimento UFMG. No ano seguinte, ficou decidido que era melhor realizá-lo na semana que antecede o Dia das Mães, data comercialmente mais favorável.

Em 2003, foi realizado um diagnóstico do artesanato do Vale com os artesãos presentes. Também foram criadas publicações para orientá-los a se organizarem em cooperativas e associações, uma demanda deles próprios.

Desde então, na tentativa de promover o diálogo entre os saberes acadêmicos e populares, artesãos têm ministrado diversas oficinas como as de cerâmica, trançado em taboa, bordado, tecelagem, na Escola de Belas Artes e no Centro Pedagógico da UFMG.

Nos anos de 2020 e 2021, em razão da pandemia de coronavírus, foi realizada uma mostra virtual pelo Polo Jequitinhonha em seu site, também divulgada em redes sociais.

Em 2022, a feira ocorreu em setembro, em formato presencial. Neste ano, voltou  ao  seu período tradicional, na semana que antecede o Dias das Mães, em maio.

Apoios e Parcerias:

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico/Subsecretaria de Desenvolvimento Regional, SEBRAE/Unidade Agronegócios do SEBRAE Minas, Prefeituras dos Municípios Participantes, CASU, OAP, SICOOB/NOSSACOOP,  ASSUFEMG, SINDIFES, APUBH e IPEAD.